Conhecimento

ESG no Brasil: Desafios do mercado de carbono ao preço de transferência

março 13, 2024

As discussões sobre estratégias de ESG têm se tornado cada vez mais comuns em escala global, com a ESG no Brasil desenvolvendo ativamente suas próprias iniciativas. Um movimento complexo e estratégico que está mudando a dinâmica da economia global, a cultura da governança ambiental, social e corporativa traz uma infinidade de questões que merecem uma análise cuidadosa.

ESG na legislação brasileira

Na frente legislativa, a Câmara dos Deputados no Brasil aprovou o PL 2148/15, que propõe a regulamentação do mercado de carbono no país e o estabelecimento do Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SBCE), que define limites de emissão e estabelece um mercado para a venda de créditos. Por enquanto, estamos aguardando que a proposta seja analisada e aprovada pelo Senado.

Além de estabelecer regulamentações inéditas no Brasil, iniciativas como essa influenciam significativamente o ambiente de negócios nacional, não apenas em relação aos aspectos domésticos.

Relatórios de ESG no Brasil

Nesse cenário, há otimismo para o Brasil e para a América Latina. De acordo com informações do Relatório de Investimento Mundial 2023 da UNCTAD– United
Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento – os investimentos estrangeiros diretos na América Latina e no Caribe aumentaram 51%, chegando a US$ 208 bilhões em 2022. No Brasil, o aumento foi de 70% (US$ 86 bilhões).

De acordo com o relatório, os investimentos internacionais em setores e atividades de ODS – que se relacionam com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável estabelecidos pela ONU – também aumentaram em 2022, resultando no crescimento de projetos em infraestrutura, energia, água, saneamento, sistemas agrícolas, saúde e educação.

A estrutura do mercado de compensação de carbono

Em primeiro lugar, o PL nº 2.148/2015 estabelece um limite para as emissões de gases de efeito estufa no âmbito corporativo. Assim, propõe que as empresas que ultrapassam os níveis de poluição devem compensar suas emissões comprando créditos, enquanto as que não atingem os limites de emissão recebem cotas que podem ser negociadas no mercado.

O objetivo é criar incentivos de forma a reduzir as emissões e, consequentemente, os impactos climáticos causados pelas empresas.

Em um segundo estágio, entra em ação o mercado regulado de créditos de compensação e geração de créditos com base no nível de emissões de gases de efeito estufa, vinculado à SBCE. A proposta sugere um sistema no qual as cotas de emissão brasileiras (CBE) e os certificados de redução ou remoção de emissões verificadas (CRVE) podem ser comercializados.

Em relação à regulamentação, estudos já indicam que ela poderia levar a mudanças econômicas positivas: de acordo com pesquisa do Banco BV, o mercado de carbono regulamentado poderia gerar R$ 48 bilhões anuais para o país.

Desafios

Além de incentivar novas práticas nas operações comerciais, a implementação de um mercado orientado por uma visão ESG traz à tona debates e iniciativas também no aspecto tributário das organizações. Nos últimos anos, tem havido discussões sobre a adoção de impostos sobre o carbono no Brasil e suas possíveis consequências em termos de aspectos econômicos, financeiros e sociais.

Entretanto, um ponto que nem sempre é lembrado e que traz desafios específicos envolve o preço de transferência no contexto de mercados globalizados ou mesmo na transferência de bens e serviços entre empresas do mesmo grupo, mas com sede em países diferentes.

Além da exigência de que o preço arbitrado esteja em conformidade com as regulamentações da RFB no caso de empresas brasileiras – respondendo aos pilares de governança corporativa e tributária -, a nova adoção de indicadores ESG influencia a dinâmica macroeconômica entre os próprios países/multinacionais.

Portanto, os aspectos desafiadores relacionados ao preço de transferência sob a perspectiva de ESG abrangem tudo, desde os custos da cadeia de valor até uma análise mais detalhada dos riscos de uma empresa e seus ativos de transferência relativos a práticas sustentáveis do ponto de vista organizacional.

Investimentos sustentáveis

Por fim, no Brasil, o setor de investimentos é um dos impulsionadores das práticas de ESG no mercado. Estudos recentes indicam, por exemplo, que os investidores no Brasil também baseiam suas decisões nas divulgações de ESG das empresas.

Assim, prestar atenção aos novos paradigmas econômicos que estão se movendo em direção à sustentabilidade tornou-se imperativo para as empresas, não apenas em termos de retórica, mas principalmente para permanecerem atraentes e competitivas em mercados onde a sustentabilidade não é mais uma meta distante.

Para obter mais informações sobre como fazer negócios no Brasil, clique aqui.