Conhecimento


Verónica Quintana
Diretor, CBIZ
Veronica Quintana é Diretora da CBIZ e da CBIZ CPAs, especializada na prestação de serviços a empresas nos sectores da agricultura, construção, fabrico, imobiliário, restauração e serviços profissionais, incluindo contratantes governamentais. Lidera a CBIZ Latino-Owned Business Service Team, criada para apoiar os proprietários de empresas latinas à medida que crescem, inovam e fazem a transição das suas empresas para a próxima geração. Com mais de 25 anos de experiência na CBIZ, Veronica gerenciou clientes de contabilidade e impostos no escritório de Oxnard, supervisionando serviços fiscais e contábeis para entidades comerciais. Está profundamente envolvida na sua comunidade e faz parte da direção de várias organizações sem fins lucrativos. Verónica foi reconhecida pelas suas contribuições, tendo vencido a categoria "Serviços Profissionais" do Latino Business Awards 2012.

Empresas americanas procuram mão de obra no nearshoring

Outubro 15, 2024

O nearshoring, sobretudo no México, está a tornar-se uma resposta cada vez mais popular para as empresas americanas que se debatem com a falta de mão de obra. As empresas americanas estão a olhar para o sul da fronteira à medida que procuram novas formas de se manterem rentáveis. Um grande impulso para o nearshore no México vem do mercado de trabalho, mas Veronica Quintana, Diretora da CBIZ, considera que os fortes laços culturais entre o México e a América também contribuem para o fascínio.

“Cada vez mais clientes nos procuram para pedir conselhos sobre nearshoring”, afirma. Alguns ainda têm família no México e querem investir nas suas cidades de origem. Tenho assistido a um aumento do número de empresas americanas que querem investir em tequila e bebidas espirituosas. No entanto, as empresas americanas em geral estão a ter dificuldade em ser rentáveis devido ao aumento dos custos dos materiais e da mão de obra. Mencionaram que talvez seja melhor investir no México, onde o mercado de trabalho é rentável e altamente motivado”.

A escassez de mão de obra nos EUA e o impulso para o nearshoring

Há uma falta de mão de obra a nível nacional nos EUA. Muitos baby boomers estão a reformar-se e outros deixaram a força de trabalho durante a pandemia. O offshoring pode ter um aspeto diferente para cada empresa, dependendo da indústria e das suas razões para o fazer.

As empresas procuram sobretudo reduzir ou otimizar os custos, aceder a competências especializadas, aumentar o número de efectivos e aumentar a escala”, afirmou Quintana. Os empregados offshore são muitas vezes mais flexíveis, o que é importante se as condições de negócio mudarem e se precisarem de reduzir a sua dimensão de forma rápida e eficiente.

A mão de obra qualificada e a vantagem competitiva do México

O México tem uma mão de obra qualificada com custos laborais mais baixos, e Quintana salientou que isto é especialmente verdade na indústria transformadora.

A proximidade com os EUA também facilita o transporte de bens e materiais de forma rápida e económica”, afirmou. O Acordo Estados Unidos-México-Canadá (USMCA) proporciona vários benefícios, tais como a redução ou eliminação de direitos aduaneiros, o facto de as empresas americanas recorrerem ao nearshoring para a mão de obra, a simplificação dos procedimentos aduaneiros e o acesso ao mercado para uma grande base de consumidores.

A Índia como um destino offshore em crescimento

A Índia é outro país que tem registado um aumento do offshoring. A CBIZ tem também uma mão de obra talentosa, especialmente no domínio empresarial, e tem experiência pessoal neste país que pode utilizar para ajudar os clientes.

Tivemos sucesso ao transferir para a Índia parte da nossa preparação do imposto sobre o rendimento”, afirmou Quintana. Trabalhamos com a sua equipa há vários anos e demos-lhes formação sobre os nossos processos, software e procedimentos. Fazem um trabalho de boa qualidade, o que nos dá a confiança e a garantia de que a deslocalização foi um sucesso.

O crescente apelo do Nearshoring

A pandemia e a crescente instabilidade na geopolítica mundial também colocaram o nearshoring no topo da lista de prioridades das empresas americanas. A perturbação das cadeias de abastecimento durante a pandemia tornou muito mais atractiva a ideia de investir em locais de produção mais próximos dos clientes. Mais recentemente, a invasão da Ucrânia pela Rússia e as crescentes tensões entre Washington e Pequim tornaram o nearshoring ainda mais prioritário.

O impacto económico do nearshoring no México

Nos últimos anos, o nearshoring dos EUA criou um boom no México. As importações americanas provenientes do México totalizaram 455 mil milhões de dólares em 2022, o que representa um aumento de quase 19% em relação ao ano anterior e de 64% em relação a 2012, de acordo com o United States Census Bureau. Ao mesmo tempo, a parte das importações mexicanas provenientes da China passou de 1% em 1994 para 20% em 2022, de acordo com um estudo recente dos académicos Laura Alfaro e Davin Chor.

De acordo com um estudo recente da Deloitte, as novas fábricas poderão acrescentar mais 3% ao PIB do país nos próximos cinco anos, bem como mais de um milhão de postos de trabalho.

De acordo com um estudo recente da Deloitte, as novas fábricas poderão aumentar o PIB do país em 3% nos próximos cinco anos e criar mais de um milhão de postos de trabalho. O governo mexicano está a tirar partido disso, tornando a legislação fiscal do país mais favorável às empresas estrangeiras. Por exemplo, a partir de outubro de 2023, os fabricantes internacionais de veículos eléctricos poderão solicitar uma dedução fiscal de 86% sobre os investimentos no país.

Desafios para os investidores

No entanto, os investidores americanos ficaram nervosos com um projeto de reforma do sistema judicial aprovado pelo governo mexicano, que faz do México o primeiro país a permitir que os juízes sejam eleitos em vez de nomeados.

Vários investidores de renome manifestaram-se contra as reformas, incluindo o gigante americano da banca de investimento Morgan Stanley. Mais recentemente, o Julius Baer alertou para o facto de as agências de notação poderem alterar a qualidade de crédito do México já no próximo ano, caso a reforma judicial seja aprovada. Mas o presidente cessante do México, Andrés Manuel López Obrador, saudou a aprovação das controversas reformas, dizendo que seriam um “exemplo para o mundo”.

Obrador, que deixa o cargo em 1 de outubro de 2024, acusa o atual sistema judicial de servir os interesses da elite política e económica. É muito importante acabar com a corrupção e a impunidade”, afirmou.

Perspectivas de futuro para as empresas americanas no México

Os investidores vão estar atentos ao mercado, uma vez que as reformas energéticas e fiscais podem travar o boom do nearshoring se não forem seguidas. Mas, por enquanto, as empresas americanas parecem estar contentes por se deslocarem para Sul.